terça-feira, 12 de maio de 2009

Tal Filho, Tal Pai




Bom... Meus pais falam um pior inglês que o meu, então você pode imaginar a comunicação deles quando vieram me visitar ano passado.

Eu tinha que trabalhar durante o dia (de vez enquando faço isso) e larguei eles no mundo. Com carro, GPS, tudo certinho pra não se perderem em Dallas.

Minha mãe fez questão de fazer um jantar pros meus amigos e se prontificou a fazer caipirinhas, no caso caipiroska, porque era de vodka.

Acontece que aqui não vende destilado em supermercado e sim em lojas especialidadas. Na maioria das vezes essas lojas se localizam ao lado de um sex shop ou raramente, ao lado de uma casa de libertinagem. Eu expliquei mais ou menos pra eles, como identificar essas lojas. Na maioria das vezes esta escrito Liquor enorme... E de cara vemos que é uma loja de bebidas.

Meu pai viu alguma coisa escrito Liquor e Drink, num neon bonito e piscante, e pronto, era ali que ele iria achar as garrafas de vodka.

Estacionou o carro, minha mãe ficou no carro e ele entrou. Já preparando as poucas palavras que meu pai sabe falar em inglês, como Good Morning, abriu a porta do lugar, se deparou com algo estranho. Nenhuma garrafa sendo vendida e sim corpos. Nenhuma vodka russa e sim americanas. Americanas Morenas. Americanas Ruivas. Americanas Loiras. Sim, ele entrou num puteiro pensando que tinha entrado numa loja de licor. Logo foi recepcionado por uma das senhoras: Welcome. Ele só pode responder: Comer? Comer o cacete. Tô indo embora. Entrou no carro, sem garrafa, sem vodka, mas com a cara de um padre que acabara de ver a freira pelada! Por fim, acabou não comprando o destilado.

Agora percebem o que é a genética não? Mas acho que eu ia tomar uma vodka lá dentro mesmo!

terça-feira, 24 de março de 2009

Cu Cheio

Sempre quis ter uma casa com banheira. Aqui tenho. Usei uma vez.

Sempre quis ter um carro com teto solar. Aqui tenho. Usei duas vezes.

Sempre quis ter uma casa com lareira. Aqui tenho. Nunca usei.

Sempre quis morar nos EUA. Aqui estou e vivo querendo voltar pro Brasil.

Sempre quis ser o principal diretor de arte de uma agência. Hoje sou e quero mudar de ramo.

E por aí vai... Sempre... Sempre... Sempre...

Como diria minha mãe: Isso é cu cheio!

terça-feira, 17 de março de 2009

Almofadas voadoras



Ói nóis aqui traveis!

Voltando lá pela época que cheguei nos EUA. Como já disse, recebi uma bufunfinha da agência pra ajudar a montar a nova vida. Logo que aluguei o apê, tive que ir comprar os móveis. Me indicaram uma loja longe pra caraio, Ikea, onde você compra e monta os móveis. Poderia ir comprar, mandar entregar em casa e ainda pagar pra montarem. Mas eu vim com a cabeça de peão e resolvi economizar. Aluguei uma caminhonete na U-Hall, que o conceito dessa empresa é que você possa fazer sua própria mudança.

Um espertinho, quando descobriu que eu ia lá, se candidatou pra me ajudar. Depois fui descobrir que ele queria fazer compras também e o carro dele, era um esportivo que mais parecia uma caixa de fórsforo arredondada. Minúsculo e com apenas dois bancos, o de motorista e o de passageiro, ou seja, Alezão indo pros cafundós, com uma caminhonete, caiu como uma luva pra ele.

Passei o dia escolhendo sofá, cama, colchão, hack pra tv, louças, talheres... Eu não queria ter que voltar lá tão cedo. Além de longe, teria que alugar uma jabiraca novamente. Então a solução foi comprar a casa inteira, sem faltar nada. O resultado foi uma caminhonete até o talo. E o fiadeumaégua que foi comigo, comprou mais do que devia. Tive que fazer duas viagens. Na primeira, tive que deixar o baguá lá, com as compras dele e fui pra casa sozinho. Eu estava aqui havia apenas 2 semanas então minhas referências, pra achar o caminho, eram apenas visuais. Ou seja, fudeu!

Dirigindo pela rodovia, pois a loja era em outra cidade, vim preocupado com as trocentas coisas na caçamba. Sacolas, caixas... Nas poucas vezes em que eu estava olhando pra estrada, e não no retrovisor, reparei um vulto rápido na caçamba e apesar de não ver, eu tinha a certeza que alguma coisa tinha voado!

Me perdi um pouco, mas consegui chegar em casa. Descarreguei quase tudo, com caixas pesadas no lombo, subindo escadas até o terceiro piso, sozinho. Enquanto fui descarregando, tentei descobrir o que supostamente havia voado. Mas não dei por falta de nada.

1 hora depois, regressei à loja pra buscar o filhote-de-cruz-credo. Colocamos as coisas na caçamba e bora de volta a Dallas. Aquela sensação de ter visto algo voar não saia da minha cabeça. Na volta, fui olhando pros cantos da estrada, pra ver se via algo... Mas nada. Estava muito escuro a rodovia pra detalhar algo.

Minha casa parecia a Casa dos Horrores. Era caixas jogada de um lado, sacolas de outro. Uma puta de uma zona. Estava cansado demais. Fui tomar um banho e percebi que havia esquecido de comprar a cortina do box! Depois de molhar o banheiro inteiro, resolvi que teria que voltar naquela loja no dia seguinte, aproveitando que estaria com o carro alugado ainda.

Na hora de dormir, senti falta do travesseiro e do edredon. Procurei como louco. Já sabia o que tinha voado. Fui pegar uma almofada então pra dormir. Puta que pariu, cadê as almofadas? Havia comprado 5 almofadas. Apenas 1 estava ali!

Pois é... Logicamente que tive que recomprar tudo. Fui a loja e na volta, com o sol iluminando fui vendo... Uma almofada ali, toda estrupiada, outra acolá, tadinha atropelada, um travesseiro rasgado e com as penas pra fora... Em uns 4o km de estrada, vi restos mortais por quase toda a extensão. E por ali jaziram por toda a vida!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

No avião

A boa coisa de você estar num avião toda hora, além de acumular milhas, é ganhar alguns privilégios. Você poderá em algumas viagens, fazer o famoso upgrade, ou seja quando você pode subir de classe, por exemplo, você comprou a passagem na Animal Class e de repente você consegue subir de classe, para a Executiva ou Primeira Classe.

Você iria todo enjauladinho, preso por poltronas de todos os lados, vendo o seu joelho virar quindim, raspando no banco da frente, com animais de outras espécies roncando e soltando nuvens de poeiras fedorentas no ar, com um ranhentinho ao lado babando.... E derepente, se vê sentado numa poltrona larga, onde pode esticar toda a perna, sem nem correr o risco de romper a espinha de quem está na frente, comida boa etc.

Pois bem. Eu nunca tinha ido em outra classe que não fosse a Gaviões da Fiel. Eu, nos meus tantos de altura, sempre sofri com a falta de espaço. Como eu viajei algumas milhares de vezes com a American Airlines, acabei virando Membro Ouro (sem duplo sentido). Com isso ganhei algumas facilidades, como prioridade no acesso ao avião e essa possibilidade de fazer upgrade, entre outras coisas. Fui para Costa Rica e fui tentar ver qual direito realmente eu poderia ter. E sem falar nada, a mulher imprime outra passagem e quando eu vejo leio: Primeira Classe. Porra, maravilha. Do caralho! Entro, me vislumbro um pouco com a situação, faço uma cara de metido, não tiro o óculos de sol pra parecer artista. No avião sou tratado como rei. Champagne antes de voar. Mr. Antonio (pra quem não sabe é meu último nome), gostaria de jantar isso ou aquilo? Porra. Nunca me chamaram pelo nome no avião. Sorvete de sobremesa, vinho, amendoím, vinho, champagne, vinho. Cheguei na Costa Rica feliz, alimentado e por lá fiquei 5 dias.

Na volta, vou todo metidão, afinal, eu agora sou uma personalidade da Primeira Classe. Vou conversar com a atendente do check-in, para me mudar de classe e a corna diz que eu não tinha mais como ir na Primeira Classe. Puta que pariu. Já entro no avião revoltado, sento no corredor. Apertado demais, meu joelho e meus ombros praticamente saem do banco e avançam pelo corredor. Coloco o ipod: vou dormir a viagem inteira ao invés de ficar olhando pra esses pobres. Quando finalmente consigo pegar num soninho gostosinho PIMBA! a aeromoça arranca um bife do meu joelho, trombando com carrinho. Pegou em cheio. Acordei assustado e mais assustado ainda ficou a fia de uma égua. Parou o que estava fazendo e foi correndo buscar alguma coisa para estancar o sangue, que jorrava. Pediu 4566 pedidos de desculpas. I'm Sorry. Ok, sem problemas. I'm Sorry. Tá, não esquenta. I'm sorry. Ok LAZARENTA! Já que estava acordado e com o curativo no joelho, bora comer aquela gororoba que é servida de ração pra gente. Você quer carne ou frango? Pergunta a rapariga. Carne. Ela serve o prato, ainda sem a carne. Pega a carne, toda delicada, com calma vem trazendo ao meu prato, que já está na mesinha e lá foi a carne escapando do poder dela e caindo no joelho. Exatamente o joelho que tinha acabado de sofrer uma parada cardíaca. E quem disse que a carne estava fria ou morna? Estava praticamente em chamas. A carne quicou no meu joelho, maltratado, e caiu no chão, lambuzando de molho madeira o piso inteiro. Eu sou uma pessoa muito educada, calma e paciente. Só perguntei se ela tinha algum problema pessoal comigo. A vontade era de pular no pescoço daquele jaburu e atirá-la porta afora do avião. Ela mais uma vez pediu 33590350 desculpas. Eu ainda disse: Se eu desculpar, o que me garante que não vou ser agredido novamente? Como alguns sabem, bebidas alcóolicas em aviões americanos são pagas. Ela me ofereceu uma cerveja de graça como pedido de desculpas. Só mesmo uma cerveja geladinha me acalmaria. Mas serviu pra me irritar mais ainda, a cerveja tava mais quente que o bife. Não bebi, tentei dormir um pouco, mas minhas narinas eram invadidas por um odor muito comum em chiqueiros. Mas tive que me acostumar. A minha fase de rico passara.

domingo, 23 de novembro de 2008

A chave

Como já escrevi aqui, passei 6 meses sem carro, correndo atrás do bonde e pedalando pela cidade . Ir ao mercado era uma tortura, porque imagina comprar as coisas e voltar de bicicleta ou a pé?! Aqui a comida é toda imensa. Tudo é pesado. O leite tem 3 litros, o suco mais 2, a carne mais uma caraiada e por aí vai. Nunca conseguia comprar muita coisa. Já perdi as compras por causa de sacola rasgada, latas de leite condensado já rolaram para o meio da rua, limões já deram uma volta pelo quarteirão e por aí vai. O pior era quando o peso da compra, pendurada no guidão da magrela me fazia perder o equilibrio e eu ia balangandaiando até quase estabacar no chão. Estava ficando craque, e conseguia no máximo uns arranhões e uns hematomas. O duro era brigar com a fia da puta da Lei da Gravidade. Era sempre muito confuso e complicado. Levando em consideração que eu moro no terceiro andar, sem elevador. E não esqueçam que sou bem atrapalhado. Imagine sempre subir três andares com sacolas pesadas e a bicicleta no cangote?! Foram 6 meses sofridos.....

Num dia de folga, um dia de mais ou menos frio e de mais ou menos chuva, resolvi brincar de cozinheiro e fazer um senhor almoço. Na época não sabia fazer quase nada e ia tentar alguma coisa espetacular. E isso me animava muito. Saí de casa todo pimpão! Peguei a bicicleta e lá fui eu pro mercado. Comprei muita coisa. Ia começar fazendo um pudim - pela primeira vez na vida. E para o banquete comprei várias coisas, como carne refrigerada, queijo fresco e outras coisas que necessitariam estar numa geladeira no mínimo em 10 minutos. No total foram 6 sacolas. E não se esqueçam: penduradas no guidão! Eu sempre estacionava o meu veículo ecológico na porta do estabelecimento e trancava com o cadeado, é lógico! E como sou muito inteligente e já tinha prática, coloquei 3 sacolas de cada lado. Abro o cadeado, equilibrando a bike, com uma chave que está no mesmo chaveiro da chave da minha casa. De repente, não mais que de repente, em uma fração de milésimos de segundos a minha amiga e companheira resolveu brincar com o ar, e quase se jogou no chão. Acho que ela estava sentindo que os nossos dias de companheirismo estavam acabando. Fui tentar agarrá-la, afinal ela era a minha melhor amiga aqui. Só que o molho de chaves resolveu fazer tipo e se jogou para o outro lado, na direção oposta ao da bicicleta. Em 1 segundo a bicicleta já estava em pé e fui pegar a chave. Simplesmente sumiu. Foi para outra dimensão. Certeza disso. Vou te contar uma coisa. Não tinha nada onde a mardita poderia se esconder. Nada. Ela simplesmente caiu no chão e foi para outro mundo. Procurei por umas 2 horas. Impossível, revirei tudo o que podia. E não tinha quase nada pra revirar. E além das chaves tinha o controle remoto do portão de casa e um abridor de lata. O molho não era pequeno. Mas sumiu. No meu prédio não existe porteiro. O controle remoto serve pra abrir a jaula que divide o edifício da rua. Ou seja. Tava na merda.

O escritório que administra o condomínio é na rua de casa. Pensei em ir lá e ver se tinha alguém para me dar uma ajuda. E lá fui eu, com a bicicleta me equilibrando nos pesos dos dois lados do guidão. E adivinha? A vagabundagem não trabalha de domingo! Impressionante. O que fazer? Fui pra frente de casa e revistei sacola por sacola, olhei todos os cantos da bicicleta, pra ver se as chaves não estavam presas em nenhum lugar e nada. 2 horas se passaram. A fome tava na lua já. Liguei pra um mexicano amigo, que foi até minha casa me ajudar. Mas na verdade ajudar em quê?

Resolvemos voltar pro mercado pra procurar a chave de novo. Taquei as compras no porta-malas do carro do cara, mas e a bicicleta? Não podia deixar ao relento. No meu edifício tem um estacionamento de bicicletas, mas precisa estar com o cadeado. Já me levaram uma, com corrente e tudo, imagina sem corrente? Era certeza que a magrela ia dar uns passeios em outra freguesia. Mas não tinha jeito. Não tinha possibilidade de colocar a bicicleta no carro. E também não tinha possibilidade de eu entrar no condomínio, lembrando que o controle de acesso foi pra outra dimensão também. 30 minutos esperando algum morador chegar pra abrir a porta e finalmente eu deixar a bicicleta lá. Desprotegida. Triste. Sozinha. No mercado mais 45 minutos de busca pela chave poltergeist. Mas nada mesmo. A solução foi ligar pra um chaveiro. Domingo a noite. Ah tá que isso é fácil. No próprio mercado pego uma lista telefônica e ligo um por um. No último, finalmente, consigo por 80 dólares um puto que vinha até em casa. Fui despachado em casa pelo mexicano, com as minhas inúmeras sacolas e esperei por 2 horas. Sentado fora do edifício. A carne refrigerada já tinha mudado três vezes de cor. Do vermelho paixão, pro amarelo febre até chegar no verde defunto. E lá chega o negão. 2 metros de altura, pesando uns 100 kg. Mais 15 minutos esperando algum morador chegar pra abrir o portão de acesso. E pronto. Em 12 segundos o corno abre a porta. Já passava das 11 da noite. Eu que saí pra comprar o almoço, cheguei na hora da ceia, com a comida estragada e 80 dolares mais pobre.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dinheiro na mão é vendaval




Antes de vir pra cá, vendi algumas coisas que tinha em casa, juntei com uma bufunfa guardada do último trabalho, transformei em dólar e zarpei pra América. Não era muito dinheiro, mas era o possível pra sobreviver algumas semanas. Iria receber aqui, lógico, mas as verdinhas serviriam pra montar essa minha nova vida. Receberia uma grana da agência somente por me transferir pra cá, uma ajuda pra os primeiros gastos, principalmente na nova moradia.

Mas quem disse que foi tranquilo assim?

Recebi meu primeiro dinheirinho da agência, duas semanas após minha chegada. Ainda não tinha conta no banco, então me deram o pagamento em cheque. Precisava descontar aquele cheque, pois o dinheiro de reserva, trazido do Brasil já estava descendo pelo ralo. Vi que o cheque era do banco Chase e procurei o mais próximo. Fui lá, com a cara deslavada pra sacar. Só que aquele pedaço mal-amado de papél não tava nominal. Andei pra cacete até a agência bancária. Tive que tirar impressões digitais de todos os dedos (logicamente que eu não entendia nada, simplesmente mandaram e eu fiz) e depois de 15 minutos, a mulher do caixa fala 400 palavras, onde eu não entendi nada. Nada mesmo. Nem um THE, ou um BOOK, muito menos IS ON THE TABLE. Nada... Tava foda. Mas percebi que algum problema tinha acontecido, pela expressão e o movimento rotatório no eixo vertical da senhora. Perguntei educadamente qual era o problema. A mulher já havia dito. Só que meu cérebro não tinha nem noção disso. Ela largou a caneta, levantou a cabeça e me olhou fixamente. No olhar consegui ver o ódio corroendo as suas entranhas. Ficou 10 segundos sem falar. Para mim pareciam 2 horas. Ficou aquela tensão no ar. Eu pensando que era a minha deixa de falar alguma coisa, mas falar o quê? Depois dessa eternidade de troca de olhares, ela me falou já executando uma pergunta: Você por acaso tá brincando com a minha cara? Quase chorando, respondi que não. E ela disse de forma educada e nada agressiva: JÁ TE EXPLIQUEI PORRA. É SURDO? Aí entendi que o cheque não tava nominal. Por isso, acredito eu, pegaram as minhas digitais, vai que eu era um procurado criminoso, ladrão de cheques. Frustrado, voltei ao trabalho e falei com o careca lá do financeiro, que pediu milhões de desculpas e arrumou a falha.

No dia seguinte, voltei ao mesmo banco. A senhora era a mesma. Depois de olhar o cheque e tal. Falou meia dúzia de palavras e fez o mesmo movimento com a cabeça. Agora eu não iria pegar o dinheiro, porque como é um cheque jurídico, precisava ser retirado na agência bancária, onde a empresa tinha conta. Eu enchi o peito, prendi o ar e pensei no que ia falar: Ok sua gorda morfética lazarenta, mas porque não me disse ontem? Porque fez eu caminhar até aqui novamente filha de um cão sarnento? Mas a única coisa que eu falei, com toda a educação do mundo, foi a pergunta de onde era essa agência. Ela me indicou e o trouxa foi andando até lá. Chegando na famosa agência, a senhora do caixa faz o mesmo movimento de rotação da cabeça. Me disse que como o cheque é blablablablablablablablablabla eu precisaria de uma autorização por escrito da minha empresa. Cada dia que passava, o dinheiro da reserva ia se acabando. No dia seguinte consegui a autorização e voltei. Já com um pé atrás. Pimba! Tudo certo, dinheiro em mãos. Mas é melhor ir e colocar ele logo numa conta, não?

Eu ainda não tinha conta, mas aproveitei pra abrir logo em seguida no Bank of America. Depois de 1 hora (tudo meio que na base da mímica) a conta foi aberta. E já dei o dinheiro para depositar. Já recebi o cartão de débito provisório e fui feliz, cantando, de volta pra agência. Finalmente teria grana.

No dia seguinte, saí pra almoçar, tentei pagar com o cartão de débito e necas. Nada. Eu já havia desbloqueado o cartão, porque não consigo? Tá louco? Paguei o almoço com os mingadinhos que tinha em espécie e na volta aproveito pra ir na minha agência bancária tentar descobrir o porquê. Como era o primeiro movimento da conta, o dinheiro ficaria retido por 2 semanas, aí sim eu poderia usar. A gerente disse isso com um sorriso educado, que mais me parecia um sorriso sarcástico e malicioso dizendo: Se fudeu brasileiro de merda. E foi acabando a reserva monetária. Mas consegui me alimentar nos últimos dias de calvário, antes de finalmente conseguir sacar a primeira verdinha. E tenho certeza que nesta nota estava escrito: Welcome to America!

domingo, 16 de novembro de 2008

Limpando a casa

Uma das coisas legais de você morar fora, é receber visitas de parentes e amigos, vindos diretamente do Brasil. E como sempre, comprar coisas na América é algo inevitável. Então, como anfitrião, tenho que passar algumas horas caminhando em algum outlet da vida.

Pois bem. Minha irmã esteve aqui e passamos o sábado andando pra cima e pra baixo. Por 5 horas compras e mais compras. Caixas e mais caixas. Sacolas e mais sacolas. O resultado foi no domingo, após eu deixá-la no aeroporto com a muamba em cuia, minha casa parecia uma creche após a noite de natal. Caixas espalhadas por todos os cantos. Sacolas embaixo da cama. Uma zona só. Não que ela tenha deixado minha casa bagunçada... Mas... É, não sei terminar esse parágrafo. Realmente ficou zoneado.

Um parêntese só: quando cheguei em casa, tirei todo o lixo que tinha no meu carro, garrafas de água e papéis e aproveitei pra colocar o GPS e a carteira dentro dessa sacola e coloquei em cima da pia.

Bom, voltando ao apartamento. Foi a hora de dar um tapa no apê e jogar todo entulho ali acumulado, através do consumismo desenfreado. Três viagens até o local onde atiramos o lixo (através do Trash Chute, ou seja, pra nos livramos do lixo, abrimos uma portinhola e tacamos todo o baguio lá pra baixo - moro no terceiro andar). Casa limpa.

Umas 2 horas depois, resolvi pedir uma pizza e pra isso precisava do cartão de crédito pra efetuar o pagamento via tel. E cadê a carteira? Busco aqui, procuro ali, reviro a cama acolá... Nada! Desapareceu! Vou até o carro. Vai ver esqueci ali. Porra nenhuma. Ali não tá. Quando entro em casa, refazendo os passos da hora que cheguei, foi como a Certeza enfincando uma faca no meu peito. FOI PRO LIXO! Eu não tinha dúvidas, a sacola que retirei de lixo do meu carro, onde estaria o GPS e a carteira, teria sido arremessada 2 horas antes na porra da portinhola. Busquei 400 vezes em casa, tentando não acreditar no óbvio. Desci até o primeiro andar, e fui ao acesso ao lixo, onde teoricamente o lixo de todos os andares é acumulado através do túnel de arremesso. Era um fedor de lascar. Puta que pariu! É certeza que tinha defunto embaixo daquelas toneladas de sacolas, garrafas, papéis, resto de comida... O caminhão de lixo retira o entulho pela parte de fora do prédio. Por dentro não tem acesso, somente pela portinhola de 50 x 50 cm. E nesse pequeno espaço, comecei a revirar o pouco lixo que eu conseguia mexer. O mau-cheiro era realmente algo lamentável. Depois de algumas tentativas, nada de achar. Desisti. Voltei pro carro. Procurei. Voltei pra casa. Zoneei tudo de novo atrás de alguma ilusão. Nada. Realmente fudeu. Liguei na oficina que administra o condomínio e falei com o zelador, expliquei minha triste história e o senhor, com voz que já estava na cama, assistindo ao Fantástico dos gringos, se prontificou a me ajudar, mas mesmo ele não dizendo, eu juro que consegui ouvir ele falar "Fio de uma égua".

Uns 20 minutos depois, aparece o homem na porta, com o GPS na mão, perguntando: Isso aqui é familiar? Porra, maravilha professor. Mas cadê a carteira? Descemos novamente e o pobre senhor, teve que entrar nessa portinhola minúscula e praticamente nadar no lixo. Olha, uma carteira de motorista: é minha. Olha um cartão de crédito: é meu. Depois de vários objetos a prestação, finalmente a carteira estava ali, perto de uma casca de banana. Na violência da queda de 3 andares, a sacola se rompeu, a carteira abriu e alguns elementos flutuaram por livre e espontânea vontade. Finalmente estava com a mardita em mãos. Mas o duro vai ser aguentar o cheiro que ficou impregnado por ali...