domingo, 28 de setembro de 2008

Português burro

Como eu já comentei, ou devo ter comentado, Dallas é uma cidade gringa demais. Já conheci várias cidades por aqui e Dallas é disparada a cidade mais americana. Em Uptown e Downtown onde vivo, trabalho e frequento, raramente você encontra alguém que fala português e mais raro ainda é encontrar um brasileiro. Raro pra quem não tem a grande sorte que eu tenho. Ou seria falta de sorte?

Estava na baladinha, acompanhado de alguns amigos brasileiros uma cena repetiu pela segunda vez comigo. Uma amiga minha, brasileira, comentou que os olhos de um tonto que estava na nossa frente eram lindos... Eu, com a mania de ser engraçado, fiquei ameaçando falar pro cara pra ele ir xavecar a brasuca. Ela me proíbia. E eu insistia. Daí viro pra ela e falo: ele pode até vir te xavecar, mas ele não tem cara que gosta da fruta... Tem uma puta cara de viado. Pronto! O corno me vira e fala: Não sou viado não. Não é que o fio de uma égua era brasileiro? Aí a casa cai. Onde colocar a cara numa hora dessas? Só sei que depois que ele falou isso, eu comentei no ouvido da brasileira: Mas que tem cara de viado... ahhhh tem! E saí de fininho dali.

Falei que isso aconteceu pela segunda vez não?

Bom... Morava em Chicago e trampava com um brasileiro. Fomos almoçar num restaurante onde as comidas já prontas, ficavam em exposição, a gente escolheia, o atendente colocava no prato e aí ia direto pra guela. Estávamos numa fila, esperando nossa vez. Quando só faltava uma pessoa, um senhor de tamanho horizontal considerável, na nossa frente, meu amigo pergunta o que eu iria comer. Eu apreciando e babando pela lasanha, mas só tinham mais dois pedaços e o cara da frente já estava comprando um deles. Eu respondo: eu quero lasanha, mas precisa ver se esse gordo puto da nossa frente não vai comer tudo. Meu amigo responde: pelo tamanho da criança, vai comer o seu pedaço de lasanha e a minha pizza. O senhor educadamente vira e diz, num português claríssimo de dar inveja em Arnaldo Jabour: não comerei a outra parte da lasanha e nem a pizza, podem se servir a vontade. O apetite sumiu rapidinho.

Mas já tive minha vingancinha também. Em São Francisco, tirando foto na famosa ponte Golden Gate, um hispânico fala: Mira que cara tonto! Realmente eu estava com cara de tonto, mas respondi que entendia o que ele falava. O tio ficou branco em questões de milésimos de segundos, aí pude ver como minha cara fica quando isso acontece.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Como tudo começou...


Voltando no passado, mais precisamente em julho de 2005, fui pra Chicago pra trabalhar na agência Leo Burnett Lapiz. Seria minha primeira experiência nos EUA. A primeira, quero dizer, profissional. Já tinha passeado por essas bandas algumas vezes, ou seja, sem compromisso com nada, principalmente com essa língua estranha.

Já no país, em Atlanta, onde passaria pela imigração e depois faria uma conexão, já aconteceriam os primeiros problemas. Já seriam indícios do que me esperava nessa terra de ninguém.

Desembarquei após 10 horas de vôo. Vim no mesmo avião que uma excursão para a Disney, com a criançada jogando travesseiros pra lá e pra cá, correndo pelo corredor, gritando, rindo, soltando gases... Não dormi nada. Cheguei em Atlanta destruído e ainda precisava pegar a conexão pra Chicago. Na imigração, o policial começou a falar rápido comigo, em inglês, mil palavras. Não entendia 0,001% do que falava. Ele repetia cada vez rápido e mais puto (aqui a paciência é algo espetacular e raro). Consegui entender 2 ou 3 palavras: meu visto não estava certo. Puta que pariu! Fodeu! Já me imaginava embarcando de volta ao Brasil, algemado e minhas bagagens sendo queimadas.

Fui encaminhado pra uma sala. Cheguei as 8h30. Minha conexão era as 9h20. Os próximos 40 minutos foram os mais longos da minha vida. O cara, na sala falava comigo e eu juro que era uma língua extraterrena. Falava isso e aquilo e nada de eu entender. E o tempo correndo e eu preocupado com a conexão. Depois de algum tempo, apareceu uma funcionária brasileira do aeroporto, por acaso, na mesma sala. Foi a salvação. Traduziu o que aquele marciano falava: meu visto estava errado, mas a culpa não era minha e sim do consulado americano no Brasil. Seria permitido minha entrada no país, mediante uma grande rasura no meu passaporte.

9h10. Minha conexão é dali 10 minutos. Tenho a liberação na imigração e saio que nem uma siriema no cio. Meu portão é o E. Estou no A. Corro que nem louco e 5 minutos depois ainda estava no A. Já era. Tenho apenas 5 minutos pra chegar no E. Se nem saí da porra do A, como vou fazer? Vi uma aeromoça e mostrei a passagem. Resumi só em: Please, HELP ME. HELP ME PORRA! A senhora me indicou o metrô e mandou eu descer no E e pronto. Onde nesse mundo eu poderia imaginar que existia um aeroporto que teria um metrô próprio? Bom... Cheguei com 2 minutos de atraso. O avião não tinha saído. Entrei e todos, quando digo todos, são todos mesmo, olharam pra mim com cara de reprovação. Conseguia ouvir os pensamentos da grigaiada (ouvia em português mesmo): Brasileiro filho da puta. Vem pro meu país e atrasa o meu vôo. Aposto que é terrorista. Filho do Bin Laden. Tomara que volte logo pra Buenos Aires, a capital do Brasil... E por aí vai. Fiquei o vôo inteiro com a sensação que estava no avião errado. Ninguém falava minha língua naquela merda. Como teria a certeza que realmente estava indo pra Chicago? Me recordei do filme Esqueceram de Mim, onde o orelhudo do moleque vai parar em Nova Iorque, quando era pra ter ido pra Paris. O coração a uns 200 batimento por minuto. O cu piscou de tanto medo, até o avião pousar. Foi quando o piloto disse: Welcome to Chicago. Meu Deus que alívio. Ok! O tonto aqui acostumado com o aeroporto de Cumbica, onde na saída você já avista as esteiras com as malas, se assustou quando na saída do avião, já desembarcava no saguão do aeroporto. Pessoas andando pra lá e pra cá. Cadê as malas? Cadê as esteiras? Perdi tudo. Andei que nem louco. Perdido. O sono, a falta da linguagem, o desespero, tudo somado, me deixou cego, surdo e mudo. Não sabia realmente pra onde ir. Fui numa vendedora de Pretzels (aqueles pães salgados no formato de nó) e perguntei num inglês medonho onde era o Check-in (na verdade queria dizer Check-out, o que também estaria errado). Ela me indicou onde despacha a mala. Caraio. Quero a minha mala e não despachar outra. Por sorte um senhor falava mais ou menos espanhol e conseguiu me explicar onde era. Finalmente encontrei. Mas quem disse que seria fácil? 486 esteiras. E nada do vôo que eu vim. Descobri que meu avião não se originou de Atlanta e consegui encontrar a dita esteira, pelo número do vôo. Quando apareceram as malas quase pulei na esteira, quase abracei-as, quase beijei-as, quase disse: papai tá aqui, agora tudo vai ficar bem. Bora pegar o táxi.

Dentro do táxi, passo o endereço num papel pro motorista e só aguardo. Cansado, suado (no Brasil era inverno e lá o verão pegando fogo, deveria estar uns 40 graus), com fome, com saudades, não vendo a hora de chegar e ligar pras pessoas que deixei no Brasil. Mas lembrei que não sabia ligar. Esqueci completamente de ver como fazer a bendita ligação internacional. Inicio uma conversação com o taxista de Gana. A pergunta era pra ter sido simples: Como faço pra ligar pro Brasil. Jesus amado. Não sei se foi meu inglês, mas quando ele ouviu a palavra Brasil, passou a falar em Romário, Bebeto, Ronaldo... 25 minutos de táxi e o puto falando de futebol e eu querendo saber como liga. Conclusão, cheguei no meu futuro lar, sem saber porra nenhuma. Morei com mais 6 pessoas lá e já haviámos combinado que eles deixariam a chave de casa na caixa do correio (todos estavam trabalhando no horário da minha chegada). Adentrei a casa e fui direto ao telefone. Apertava todos os números, tentava de algum jeito acertar a combinação certa. Nada. Nunca mais ia falar com ninguém. Ferrou. Procurei na casa uma lista telefônica. Na minha ceguisse peguei um guia de turismo. Procurei um restaurante brasileiro que fosse. Eles teriam que saber não? Mas não achei. Saí pelas ruas, atrás de um orelhão. Poderia ter alguma informação. Mas não achei. O calor estava explodindo. Voltei pra casa. Quase em farrapos. Suado que nem um boi na brasa. Fucei na casa inteira, alguma coisa pra me ajudar eu encontraria. Foi quando vi um laptop de um dos gringos que morariam comigo. Quer saber? Foda-se. Liguei o laptop e acessei o site da embratel. Morrendo de medo de alguém entrar. O único não americano na casa, no seu primeiro dia, já furtando um laptop... Seria lindo. Finalmente consegui como ligar pro Brasil a cobrar. 16 horas depois de deixar o país, consegui ligar... Ufa! Tô vivo. Já falei com as pessoas, despreocupei elas, me aliviei, agora é hora de tomar banho. E lá se foram mais uns 40 minutos pra descobrir como ligar o chuveiro...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Luz da minha vida



Voltando ao meu início conturbado aqui...

Quando cheguei, morei por 2 semanas num hotel e depois 1 semana peregrinando entre a casa de amigos, dormindo em chão, em sofá de 2 lugares... Só 3 semanas depois que cheguei é que finalmente tive a minha casa. Diferentemente do Brasil, em um apartamento, você escolhe a empresa de energia que vai te fornecer a luz. E lógico que só fui descobrir isso vários dias depois de já estar instalado. Alguém no trabalho perguntou: Já contratou a energia? Como assim? Você tem que contratar a energia, se não, vai ficar sem luz papá! E lá fui eu pesquisar entre algumas companhias, qual me dava o melhor valor. Na época, meu portunhol ainda era básico e o inglês praticamente era de book is on the table, ou seja, complicadíssimo. Como comentei algumas vezes, cheguei sem crédito e pra contratar qualquer serviço tinha que pagar. Sempre. Com a energia não seria diferente. Tive que pagar 250 dólares pro início de conversa. Só que não entendi como esse dinheiro iria voltar pra mim.

Fiz a transferência do dinheiro através do site do banco. Eu já estava recebendo luz em casa, que posteriormente o condomínio me cobrou, mas acreditava que já era pelo serviço contratado. 2 semanas depois do pagamento, recebi um cheque pelo correio de 250, da empresa de energia. Pulei de alegria, pois já era o retorno do dinheiro pra contratar o serviço. Fui depositar na minha conta e algum problema tinha no cheque. Não sabia identificar o que era, pois os funcionários do banco me falavam em inglês. Eu tentava definir o que era através de mimica. Mas tava realmente foda entender. Depois de alguns minutos eternos, conhegui entender alguma coisa, ou achei que entendi. Segundo meu fabuloso inglês, os funcionários estavam me dizendo que o cheque tava destinado a Reliant (empresa de luz) e precisaria estar no meu nome.

Chegando de volta na agência, liguei pra lá, pra falar que o cheque estava errado e que precisariam mandar outro. Depois de pesquisa aqui e acolá, a atendente me diz que a empresa até hoje está esperando meu pagamento pra liberar o serviço. "COMO"? Falei, briguei, lutei. "Eu havia feito o depósito minha senhora, inclusive a empresa já havia me mandado o dinheiro de volta." Jesus! "Não, não e não... Não consta seu cadastro". Tirei cópia de tudo e mandei por fax, para provar que eu não estava louco. Me pediram 24 horas pra resolver. No dia seguinte, aproveitei que precisava ir no banco novamente e tentei depositar o cheque na marra. E mais uma vez, foi um dia regado de mímicas e de viagem cerebral. Mas dessa vez apareceu uma gerente que falava um espanhol medonho, mas compreensível. Expliquei a situação e ela começou a rir. O começo foi realmente foda, não conseguia resolver nada, sem ao menos dar com a cabeça na parede por pelo menos umas 10 vezes. E aquela risada soava irônica e uma voadora na nuca daquela senhora, não seria nada mal. Depois de alguns segundos de gargalhada e nenhuma violência, a senhora me explicou que o cheque tava certo e que quando eu fiz a transferência no site do banco, na verdade efetuei mesmo o pagamento, mas de uma forma errada (até hoje não descobri a certa). O que eu fiz, foi a "criação de um cheque". E o banco mandou esse cheque e o que eu precisava fazer, era colocar em um envelope e mandar pra empresa de energia. Ou seja: esse pagamento nunca foi pra empresa de energia e nunca saiu da minha conta. Americano é tão gordo e preguiçoso que criou um sistema de preenchimento de cheque. Para quê preencher o cheque na hora e enviar, se eu posso fazer com que o banco preencha e só tarda 2 semanas pra isso?

Realmente entender o que havia acontecido, me queimou alguns neurônios, mas me trouxe a luz divina e elétrica.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Visto

Uma das coisas boas de morar nessa terra quadrada é o preço das passagens. E o bom de morar no Texas é a proximidade com outros países, principalmente no Caribe e América Central. Com 2 horas de vôo você pode ir para lugares e incríveis. O único país que eu havia conhecido, fora do Brasil, era os EUA. Prometi então que iria fazer um tour por aí. Em 1 ano quase de EUA só viajei internamente, sabe lá Deus porquê. Mas decidi que o feriado de Labor Day (dia do trabalho gringo), onde eu não trabalharia na sexta e na segunda, iria pra algum lugar no Caribe. Sou louco por mar e nunca tinha ido ver o famoso azul.

A idéia era ir pra Porto Rico, mas depois mudou pra Costa Rica, logo em seguida mudou pra Jamaica, na sequência veio República Dominicana... E foi mudando... Minha mente viajou por Guatemala, Bahamas, El Savador, Honduras, Cancun... Até que inventei de ver um local que mal eu conseguia localizar no mapa: Belize. Procurei referências, imagens na internet, histórias. Pimba! É pra lá que eu vou.

Só pra vocês terem idéia, o país é minúsculo. Na verdade não é um país, é um Estado independente, assim como Israel e Porto Rico, pertencente ao Reino Unico. Lá tem o segundo maior barreira de recife de corais do mundo, com 300 km. Fora que tem ruínas maias. Perfeito pra fazer scuba diving (mergulho) ou snorkling (mergulho de superfície). Pronto. Comprei a passagem e fechei com o hotel.

Uns 3 dias antes de embarcar, já animado com a viagem, resolvi pegar mais informações sobre lá... Além de estar viajando sozinho, não sabia nada. Nada mesmo. Perguntava e ninguém nunca havia ido pra lá. E foi em algum site que vi: precisa de visto. Eu nem tinha imaginado que necessitaria, uma coisa minúscula perdido no meio da América Central, quem poderia crer que existisse alguma burocracia pra entrar. Mas existia.

Leio em algum canto que preciso ir ao consulado britânico pra tirar o visto e pesquisando na internet vi que tinha um perto de casa. Fui na hora, afinal, o tempo corria. E nada. O consulado havia fechado há algum tempo e o mais próximo era em Houston (umas 5 horas de carro, ou seja já era). Descobri um consulado de Belize em Washington e liguei somente pra pegar informações se eu conseguiria tirar o visto diretamente na imigração de Belize, já depois de embarcado lá. A resposta foi dura, sincera e simples: NÃO. Fudeu. 2 dias antes de embarcar, o que fazer? Ela me passou um telefone do consulado em Dallas. Tentei ligar o dia todo. Nada. Deixei recado, mas nada. Voltei a ligar pra Washington e a mesma mulher me informou que eu poderia enviar o passaporte pra eles lá, com urgência, que eles me dariam o visto. Só que não teria mais prazo. Precisaria mandar o passaporte, efetuar o pagamento em apenas 1 hora, baseado nuns cálculos que fiz, de tempo de envio, chegada, visto e retorno pras minhas mãos. Isso confiando que ninguém ia dar timão no meu passaporte e fugir. Afinal, nunca tinha ouvido falar desse pequeno espaço de terra no mundo. Quase desistindo da tão sonhada viagem, eis que meu telefone toca. Mal entendia o inglês do senhor. Já entendo mal, mas o sotaque texanos transforma o inglês em alguma língua árabe. E ainda mais, o homem parecia ter uns 120 anos. Tossia, engasgava, quase morrendo. Me perguntou educadamente, O QUE VOCÊ QUER? Foi uma luta até descobrir que aquele homem era do tal “consulado”. Na verdade ele era "O Consulado". Não existia uma sede fixa... Apenas esse véio que se dizia Cônsul. E me falou que
eu não precisaria mandar os documentos pra Washington porque ele mesmo daria o visto.
- Mas aí é um consulado?
- Não, mas eu posso te dar o visto.
- Mas, como assim? Com o que o senhor trabalha?
- Ah saco, meu jovem, faço muitas coisas: sou engenheiro, vendedor de imóveis, consultor, pai-de-santo e nas horas vagas cônsul de Belize.
- Então você pode me dar o visto?
- Não falei que posso saco?
- Então me passa o endereço que vou até aí, é urgente, porque embarco depois de amanhã.
- Não, não. Me fala onde você tá que vou até aí e te carimbo o passaporte.

Bom... Na minha cabeça não entrava. Como um senhor, viria até aqui me dar o visto? Visto Delivery? Cacete. Tá louco? É lógico que é trote, que o fio da puta tá de zoeira e eu vou me ferrar, pois perderei a viagem e o dinheiro do hotel (que já havia sido pago). Mas não tinha o que fazer, a não ser confiar no doutor. Marcamos de nos encontrar então, no dia seguinte, um dia antes de embarcar.

Falou que viria ao meu encontro depois das 16 horas. Desligamos e tchau. No dia do Visto Delivery ainda estou incrédulo, ligo antes do almoço só pra confirmar. Ele disse que me retornaria depois das 15 horas e desligou na minha cara. Pronto, entrei na famosa história do Véio do Trote. Precisava saber quanto teria que pagar, pois havia esquecido o valor que ele já havia dito. Eu tinha uma reunião as 15h00... No exato momento que o véio falou que ia retornar. Precisei ligar pra ele novamente, pra perguntar o valor e pra dizer que estaria numa reunião. Liguei as 14 horas e só ouvi: PORRA, CARALHO... JÁ NÃO DISSE QUE EU LIGARIA PRA VOCÊ AS 15hs? Mas senhor, eu preciso saber quanto tenho que pagar. EU JÁ DISSE ONTEM PRA VOCÊ SACO e pronto, desligou na minha cara de novo. Saquei um dinheiro que acreditava que fosse e pronto. Vamos esperar o véio mal humorado. Lá pelas 17 horas, me liga, dizendo que tá chegando. Depois de alguns desencontros, pois eu ainda estava trabalhando e ele tava a caminho de casa, marcamos de nos encontrar no estacionamento de um restaurante. Me senti seguro ao saber que tinha um policial ali, afinal, já passava de tudo na minha cabeça: sequestro, roubo do dinheiro do visto, roubo do passaporte... Foi só o tiozinho chegar, com seu furgão dos anos 30 que percebi que no máximo ele me enrolaria. Eu disse no começo da história que ele pareciaz ter 120 anos. Mentira. Parecia ter 230. Entrei no furgão do véio e mais parecia um museu pós guerra. Bitucas de cigarros, latas de refrigerantes, maletas empoeiradas, papéis e mais papéis. Me deu um papel amarelado pra eu preencher, que aposto que teria uns 50 anos de vida já. Enquanto ia respondendo as coisas do papel, o velho ia tossindo cada vez mais, e quando mais ele tossia, mais eu escrevia os dados rápido: aquele senhor não teria muito tempo de vida, que pelo menos carimbasse meu passaporte antes de qualquer coisa.
Após um carimbinho simples e o pagamento eu já estava voltando pro trabalho. Ainda incrédulo, pois estava acostumado com o visto americano, que é cheio de frescuras, burocracias e uma dor de cabeça pra tirar. Mas ainda assim achei fácil demais. Voei pra Belize, com medo de chegar lá e ser barrado. Na hora da imigração, o policial da fronteira diz: TÁ ERRADO. Puta que pariu, além de ser enganado, vou ser preso por falsificação de visto. Mas ufa, o que estava errado era só um dado do papel que havia preenchido pra cruzar a fronteira. O visto estava certinho e depois de corrigir o papel, já nem me preocupava se aquele senhor tava vivo ou não.