quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Como tudo começou...


Voltando no passado, mais precisamente em julho de 2005, fui pra Chicago pra trabalhar na agência Leo Burnett Lapiz. Seria minha primeira experiência nos EUA. A primeira, quero dizer, profissional. Já tinha passeado por essas bandas algumas vezes, ou seja, sem compromisso com nada, principalmente com essa língua estranha.

Já no país, em Atlanta, onde passaria pela imigração e depois faria uma conexão, já aconteceriam os primeiros problemas. Já seriam indícios do que me esperava nessa terra de ninguém.

Desembarquei após 10 horas de vôo. Vim no mesmo avião que uma excursão para a Disney, com a criançada jogando travesseiros pra lá e pra cá, correndo pelo corredor, gritando, rindo, soltando gases... Não dormi nada. Cheguei em Atlanta destruído e ainda precisava pegar a conexão pra Chicago. Na imigração, o policial começou a falar rápido comigo, em inglês, mil palavras. Não entendia 0,001% do que falava. Ele repetia cada vez rápido e mais puto (aqui a paciência é algo espetacular e raro). Consegui entender 2 ou 3 palavras: meu visto não estava certo. Puta que pariu! Fodeu! Já me imaginava embarcando de volta ao Brasil, algemado e minhas bagagens sendo queimadas.

Fui encaminhado pra uma sala. Cheguei as 8h30. Minha conexão era as 9h20. Os próximos 40 minutos foram os mais longos da minha vida. O cara, na sala falava comigo e eu juro que era uma língua extraterrena. Falava isso e aquilo e nada de eu entender. E o tempo correndo e eu preocupado com a conexão. Depois de algum tempo, apareceu uma funcionária brasileira do aeroporto, por acaso, na mesma sala. Foi a salvação. Traduziu o que aquele marciano falava: meu visto estava errado, mas a culpa não era minha e sim do consulado americano no Brasil. Seria permitido minha entrada no país, mediante uma grande rasura no meu passaporte.

9h10. Minha conexão é dali 10 minutos. Tenho a liberação na imigração e saio que nem uma siriema no cio. Meu portão é o E. Estou no A. Corro que nem louco e 5 minutos depois ainda estava no A. Já era. Tenho apenas 5 minutos pra chegar no E. Se nem saí da porra do A, como vou fazer? Vi uma aeromoça e mostrei a passagem. Resumi só em: Please, HELP ME. HELP ME PORRA! A senhora me indicou o metrô e mandou eu descer no E e pronto. Onde nesse mundo eu poderia imaginar que existia um aeroporto que teria um metrô próprio? Bom... Cheguei com 2 minutos de atraso. O avião não tinha saído. Entrei e todos, quando digo todos, são todos mesmo, olharam pra mim com cara de reprovação. Conseguia ouvir os pensamentos da grigaiada (ouvia em português mesmo): Brasileiro filho da puta. Vem pro meu país e atrasa o meu vôo. Aposto que é terrorista. Filho do Bin Laden. Tomara que volte logo pra Buenos Aires, a capital do Brasil... E por aí vai. Fiquei o vôo inteiro com a sensação que estava no avião errado. Ninguém falava minha língua naquela merda. Como teria a certeza que realmente estava indo pra Chicago? Me recordei do filme Esqueceram de Mim, onde o orelhudo do moleque vai parar em Nova Iorque, quando era pra ter ido pra Paris. O coração a uns 200 batimento por minuto. O cu piscou de tanto medo, até o avião pousar. Foi quando o piloto disse: Welcome to Chicago. Meu Deus que alívio. Ok! O tonto aqui acostumado com o aeroporto de Cumbica, onde na saída você já avista as esteiras com as malas, se assustou quando na saída do avião, já desembarcava no saguão do aeroporto. Pessoas andando pra lá e pra cá. Cadê as malas? Cadê as esteiras? Perdi tudo. Andei que nem louco. Perdido. O sono, a falta da linguagem, o desespero, tudo somado, me deixou cego, surdo e mudo. Não sabia realmente pra onde ir. Fui numa vendedora de Pretzels (aqueles pães salgados no formato de nó) e perguntei num inglês medonho onde era o Check-in (na verdade queria dizer Check-out, o que também estaria errado). Ela me indicou onde despacha a mala. Caraio. Quero a minha mala e não despachar outra. Por sorte um senhor falava mais ou menos espanhol e conseguiu me explicar onde era. Finalmente encontrei. Mas quem disse que seria fácil? 486 esteiras. E nada do vôo que eu vim. Descobri que meu avião não se originou de Atlanta e consegui encontrar a dita esteira, pelo número do vôo. Quando apareceram as malas quase pulei na esteira, quase abracei-as, quase beijei-as, quase disse: papai tá aqui, agora tudo vai ficar bem. Bora pegar o táxi.

Dentro do táxi, passo o endereço num papel pro motorista e só aguardo. Cansado, suado (no Brasil era inverno e lá o verão pegando fogo, deveria estar uns 40 graus), com fome, com saudades, não vendo a hora de chegar e ligar pras pessoas que deixei no Brasil. Mas lembrei que não sabia ligar. Esqueci completamente de ver como fazer a bendita ligação internacional. Inicio uma conversação com o taxista de Gana. A pergunta era pra ter sido simples: Como faço pra ligar pro Brasil. Jesus amado. Não sei se foi meu inglês, mas quando ele ouviu a palavra Brasil, passou a falar em Romário, Bebeto, Ronaldo... 25 minutos de táxi e o puto falando de futebol e eu querendo saber como liga. Conclusão, cheguei no meu futuro lar, sem saber porra nenhuma. Morei com mais 6 pessoas lá e já haviámos combinado que eles deixariam a chave de casa na caixa do correio (todos estavam trabalhando no horário da minha chegada). Adentrei a casa e fui direto ao telefone. Apertava todos os números, tentava de algum jeito acertar a combinação certa. Nada. Nunca mais ia falar com ninguém. Ferrou. Procurei na casa uma lista telefônica. Na minha ceguisse peguei um guia de turismo. Procurei um restaurante brasileiro que fosse. Eles teriam que saber não? Mas não achei. Saí pelas ruas, atrás de um orelhão. Poderia ter alguma informação. Mas não achei. O calor estava explodindo. Voltei pra casa. Quase em farrapos. Suado que nem um boi na brasa. Fucei na casa inteira, alguma coisa pra me ajudar eu encontraria. Foi quando vi um laptop de um dos gringos que morariam comigo. Quer saber? Foda-se. Liguei o laptop e acessei o site da embratel. Morrendo de medo de alguém entrar. O único não americano na casa, no seu primeiro dia, já furtando um laptop... Seria lindo. Finalmente consegui como ligar pro Brasil a cobrar. 16 horas depois de deixar o país, consegui ligar... Ufa! Tô vivo. Já falei com as pessoas, despreocupei elas, me aliviei, agora é hora de tomar banho. E lá se foram mais uns 40 minutos pra descobrir como ligar o chuveiro...

3 comentários:

Anônimo disse...

Ale!!!! hahaha!!!!!!!até já tinha me esquecido disso.Realmente, tudo é difícil mesmo para vc de primeira, nada de mão beijada. MAS COMO JÁ DISSE, NO FIM TUDO DÁ MAIS CERTO AINDA.Vá em frente e ficará cada vez mais fortalecido. Beijos meu herói.Te amo

Anônimo disse...

Alê, mas sabe que vc esta mesmo parecendo uma Siriema com este novo cabelo!?!
Imaginei a cena, vc na esteira abraçando as únicas coisas conhecidas, suas malas!!!! ahahaha, o dureza... tadinho!!!! Bjo.

Anônimo disse...

Uma palavra para definir o caso: JACÚ !!!!