Uma das coisas boas de morar nessa terra quadrada é o preço das passagens. E o bom de morar no Texas é a proximidade com outros países, principalmente no Caribe e América Central. Com 2 horas de vôo você pode ir para lugares e incríveis. O único país que eu havia conhecido, fora do Brasil, era os EUA. Prometi então que iria fazer um tour por aí. Em 1 ano quase de EUA só viajei internamente, sabe lá Deus porquê. Mas decidi que o feriado de Labor Day (dia do trabalho gringo), onde eu não trabalharia na sexta e na segunda, iria pra algum lugar no Caribe. Sou louco por mar e nunca tinha ido ver o famoso azul.
A idéia era ir pra Porto Rico, mas depois mudou pra Costa Rica, logo em seguida mudou pra Jamaica, na sequência veio República Dominicana... E foi mudando... Minha mente viajou por Guatemala, Bahamas, El Savador, Honduras, Cancun... Até que inventei de ver um local que mal eu conseguia localizar no mapa: Belize. Procurei referências, imagens na internet, histórias. Pimba! É pra lá que eu vou.
Só pra vocês terem idéia, o país é minúsculo. Na verdade não é um país, é um Estado independente, assim como Israel e Porto Rico, pertencente ao Reino Unico. Lá tem o segundo maior barreira de recife de corais do mundo, com 300 km. Fora que tem ruínas maias. Perfeito pra fazer scuba diving (mergulho) ou snorkling (mergulho de superfície). Pronto. Comprei a passagem e fechei com o hotel.
Uns 3 dias antes de embarcar, já animado com a viagem, resolvi pegar mais informações sobre lá... Além de estar viajando sozinho, não sabia nada. Nada mesmo. Perguntava e ninguém nunca havia ido pra lá. E foi em algum site que vi: precisa de visto. Eu nem tinha imaginado que necessitaria, uma coisa minúscula perdido no meio da América Central, quem poderia crer que existisse alguma burocracia pra entrar. Mas existia.
Leio em algum canto que preciso ir ao consulado britânico pra tirar o visto e pesquisando na internet vi que tinha um perto de casa. Fui na hora, afinal, o tempo corria. E nada. O consulado havia fechado há algum tempo e o mais próximo era em Houston (umas 5 horas de carro, ou seja já era). Descobri um consulado de Belize em Washington e liguei somente pra pegar informações se eu conseguiria tirar o visto diretamente na imigração de Belize, já depois de embarcado lá. A resposta foi dura, sincera e simples: NÃO. Fudeu. 2 dias antes de embarcar, o que fazer? Ela me passou um telefone do consulado em Dallas. Tentei ligar o dia todo. Nada. Deixei recado, mas nada. Voltei a ligar pra Washington e a mesma mulher me informou que eu poderia enviar o passaporte pra eles lá, com urgência, que eles me dariam o visto. Só que não teria mais prazo. Precisaria mandar o passaporte, efetuar o pagamento em apenas 1 hora, baseado nuns cálculos que fiz, de tempo de envio, chegada, visto e retorno pras minhas mãos. Isso confiando que ninguém ia dar timão no meu passaporte e fugir. Afinal, nunca tinha ouvido falar desse pequeno espaço de terra no mundo. Quase desistindo da tão sonhada viagem, eis que meu telefone toca. Mal entendia o inglês do senhor. Já entendo mal, mas o sotaque texanos transforma o inglês em alguma língua árabe. E ainda mais, o homem parecia ter uns 120 anos. Tossia, engasgava, quase morrendo. Me perguntou educadamente, O QUE VOCÊ QUER? Foi uma luta até descobrir que aquele homem era do tal “consulado”. Na verdade ele era "O Consulado". Não existia uma sede fixa... Apenas esse véio que se dizia Cônsul. E me falou que
eu não precisaria mandar os documentos pra Washington porque ele mesmo daria o visto.
- Mas aí é um consulado?
- Não, mas eu posso te dar o visto.
- Mas, como assim? Com o que o senhor trabalha?
- Ah saco, meu jovem, faço muitas coisas: sou engenheiro, vendedor de imóveis, consultor, pai-de-santo e nas horas vagas cônsul de Belize.
- Então você pode me dar o visto?
- Não falei que posso saco?
- Então me passa o endereço que vou até aí, é urgente, porque embarco depois de amanhã.
- Não, não. Me fala onde você tá que vou até aí e te carimbo o passaporte.
Bom... Na minha cabeça não entrava. Como um senhor, viria até aqui me dar o visto? Visto Delivery? Cacete. Tá louco? É lógico que é trote, que o fio da puta tá de zoeira e eu vou me ferrar, pois perderei a viagem e o dinheiro do hotel (que já havia sido pago). Mas não tinha o que fazer, a não ser confiar no doutor. Marcamos de nos encontrar então, no dia seguinte, um dia antes de embarcar.
Falou que viria ao meu encontro depois das 16 horas. Desligamos e tchau. No dia do Visto Delivery ainda estou incrédulo, ligo antes do almoço só pra confirmar. Ele disse que me retornaria depois das 15 horas e desligou na minha cara. Pronto, entrei na famosa história do Véio do Trote. Precisava saber quanto teria que pagar, pois havia esquecido o valor que ele já havia dito. Eu tinha uma reunião as 15h00... No exato momento que o véio falou que ia retornar. Precisei ligar pra ele novamente, pra perguntar o valor e pra dizer que estaria numa reunião. Liguei as 14 horas e só ouvi: PORRA, CARALHO... JÁ NÃO DISSE QUE EU LIGARIA PRA VOCÊ AS 15hs? Mas senhor, eu preciso saber quanto tenho que pagar. EU JÁ DISSE ONTEM PRA VOCÊ SACO e pronto, desligou na minha cara de novo. Saquei um dinheiro que acreditava que fosse e pronto. Vamos esperar o véio mal humorado. Lá pelas 17 horas, me liga, dizendo que tá chegando. Depois de alguns desencontros, pois eu ainda estava trabalhando e ele tava a caminho de casa, marcamos de nos encontrar no estacionamento de um restaurante. Me senti seguro ao saber que tinha um policial ali, afinal, já passava de tudo na minha cabeça: sequestro, roubo do dinheiro do visto, roubo do passaporte... Foi só o tiozinho chegar, com seu furgão dos anos 30 que percebi que no máximo ele me enrolaria. Eu disse no começo da história que ele pareciaz ter 120 anos. Mentira. Parecia ter 230. Entrei no furgão do véio e mais parecia um museu pós guerra. Bitucas de cigarros, latas de refrigerantes, maletas empoeiradas, papéis e mais papéis. Me deu um papel amarelado pra eu preencher, que aposto que teria uns 50 anos de vida já. Enquanto ia respondendo as coisas do papel, o velho ia tossindo cada vez mais, e quando mais ele tossia, mais eu escrevia os dados rápido: aquele senhor não teria muito tempo de vida, que pelo menos carimbasse meu passaporte antes de qualquer coisa.
Após um carimbinho simples e o pagamento eu já estava voltando pro trabalho. Ainda incrédulo, pois estava acostumado com o visto americano, que é cheio de frescuras, burocracias e uma dor de cabeça pra tirar. Mas ainda assim achei fácil demais. Voei pra Belize, com medo de chegar lá e ser barrado. Na hora da imigração, o policial da fronteira diz: TÁ ERRADO. Puta que pariu, além de ser enganado, vou ser preso por falsificação de visto. Mas ufa, o que estava errado era só um dado do papel que havia preenchido pra cruzar a fronteira. O visto estava certinho e depois de corrigir o papel, já nem me preocupava se aquele senhor tava vivo ou não.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
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4 comentários:
Alê.... q visto é esse??? Poderia ser assim para qquer lugar, seria ótimo!!!!!
Oww, assiste a novela nas 9, A Favorita, eu imagino esse tio do visto igual ao Seu Pedro da novela, pai da Flora e da Donatela, ahahahahahah, ele é assim, só tosse e treme tempo todo, assiste pra vc ver. E vc foi, já voltou, já vimos suas fotos, e o tio hein?! Será q ele ta vivo ainda??? ahahahahah pecado... Beijos PS.: Veja a novela!
Muito boa essa história. Ao ver o véio, o furgão, a educação britânica/texana do tio e a precariedade do visto, vc não ficou com medo de chegar em Belize e ser que nem aquele hotel de Arraial d'Ajuda!? Lembra? hahahahah
Beijinhos K.
Ale...vc percebeu que tudo que vai fazer é difícil, não é nada de mão beijada...Mas no fim vc consegue tudo.E já foi até para Belize, que nunca ninguem tinha ouvido falar. Vá em frente, planeje, tropece, levante..mas vá, confio em vc. Beijos Mamis
OI LELE
QUERO SABER SE O "VEIO" DO CONSULADO JÁ MORREU?????
BOA HISTÓR , DOU MUITA RISADA.
SÓ VC
BJE AMO VC
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