domingo, 23 de novembro de 2008

A chave

Como já escrevi aqui, passei 6 meses sem carro, correndo atrás do bonde e pedalando pela cidade . Ir ao mercado era uma tortura, porque imagina comprar as coisas e voltar de bicicleta ou a pé?! Aqui a comida é toda imensa. Tudo é pesado. O leite tem 3 litros, o suco mais 2, a carne mais uma caraiada e por aí vai. Nunca conseguia comprar muita coisa. Já perdi as compras por causa de sacola rasgada, latas de leite condensado já rolaram para o meio da rua, limões já deram uma volta pelo quarteirão e por aí vai. O pior era quando o peso da compra, pendurada no guidão da magrela me fazia perder o equilibrio e eu ia balangandaiando até quase estabacar no chão. Estava ficando craque, e conseguia no máximo uns arranhões e uns hematomas. O duro era brigar com a fia da puta da Lei da Gravidade. Era sempre muito confuso e complicado. Levando em consideração que eu moro no terceiro andar, sem elevador. E não esqueçam que sou bem atrapalhado. Imagine sempre subir três andares com sacolas pesadas e a bicicleta no cangote?! Foram 6 meses sofridos.....

Num dia de folga, um dia de mais ou menos frio e de mais ou menos chuva, resolvi brincar de cozinheiro e fazer um senhor almoço. Na época não sabia fazer quase nada e ia tentar alguma coisa espetacular. E isso me animava muito. Saí de casa todo pimpão! Peguei a bicicleta e lá fui eu pro mercado. Comprei muita coisa. Ia começar fazendo um pudim - pela primeira vez na vida. E para o banquete comprei várias coisas, como carne refrigerada, queijo fresco e outras coisas que necessitariam estar numa geladeira no mínimo em 10 minutos. No total foram 6 sacolas. E não se esqueçam: penduradas no guidão! Eu sempre estacionava o meu veículo ecológico na porta do estabelecimento e trancava com o cadeado, é lógico! E como sou muito inteligente e já tinha prática, coloquei 3 sacolas de cada lado. Abro o cadeado, equilibrando a bike, com uma chave que está no mesmo chaveiro da chave da minha casa. De repente, não mais que de repente, em uma fração de milésimos de segundos a minha amiga e companheira resolveu brincar com o ar, e quase se jogou no chão. Acho que ela estava sentindo que os nossos dias de companheirismo estavam acabando. Fui tentar agarrá-la, afinal ela era a minha melhor amiga aqui. Só que o molho de chaves resolveu fazer tipo e se jogou para o outro lado, na direção oposta ao da bicicleta. Em 1 segundo a bicicleta já estava em pé e fui pegar a chave. Simplesmente sumiu. Foi para outra dimensão. Certeza disso. Vou te contar uma coisa. Não tinha nada onde a mardita poderia se esconder. Nada. Ela simplesmente caiu no chão e foi para outro mundo. Procurei por umas 2 horas. Impossível, revirei tudo o que podia. E não tinha quase nada pra revirar. E além das chaves tinha o controle remoto do portão de casa e um abridor de lata. O molho não era pequeno. Mas sumiu. No meu prédio não existe porteiro. O controle remoto serve pra abrir a jaula que divide o edifício da rua. Ou seja. Tava na merda.

O escritório que administra o condomínio é na rua de casa. Pensei em ir lá e ver se tinha alguém para me dar uma ajuda. E lá fui eu, com a bicicleta me equilibrando nos pesos dos dois lados do guidão. E adivinha? A vagabundagem não trabalha de domingo! Impressionante. O que fazer? Fui pra frente de casa e revistei sacola por sacola, olhei todos os cantos da bicicleta, pra ver se as chaves não estavam presas em nenhum lugar e nada. 2 horas se passaram. A fome tava na lua já. Liguei pra um mexicano amigo, que foi até minha casa me ajudar. Mas na verdade ajudar em quê?

Resolvemos voltar pro mercado pra procurar a chave de novo. Taquei as compras no porta-malas do carro do cara, mas e a bicicleta? Não podia deixar ao relento. No meu edifício tem um estacionamento de bicicletas, mas precisa estar com o cadeado. Já me levaram uma, com corrente e tudo, imagina sem corrente? Era certeza que a magrela ia dar uns passeios em outra freguesia. Mas não tinha jeito. Não tinha possibilidade de colocar a bicicleta no carro. E também não tinha possibilidade de eu entrar no condomínio, lembrando que o controle de acesso foi pra outra dimensão também. 30 minutos esperando algum morador chegar pra abrir a porta e finalmente eu deixar a bicicleta lá. Desprotegida. Triste. Sozinha. No mercado mais 45 minutos de busca pela chave poltergeist. Mas nada mesmo. A solução foi ligar pra um chaveiro. Domingo a noite. Ah tá que isso é fácil. No próprio mercado pego uma lista telefônica e ligo um por um. No último, finalmente, consigo por 80 dólares um puto que vinha até em casa. Fui despachado em casa pelo mexicano, com as minhas inúmeras sacolas e esperei por 2 horas. Sentado fora do edifício. A carne refrigerada já tinha mudado três vezes de cor. Do vermelho paixão, pro amarelo febre até chegar no verde defunto. E lá chega o negão. 2 metros de altura, pesando uns 100 kg. Mais 15 minutos esperando algum morador chegar pra abrir o portão de acesso. E pronto. Em 12 segundos o corno abre a porta. Já passava das 11 da noite. Eu que saí pra comprar o almoço, cheguei na hora da ceia, com a comida estragada e 80 dolares mais pobre.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olha, aprendi uma nova unidade para peso! Já conhecia g (gramas), mg (microgramas) Kg(kilogramas).... agora essa unidade de peso da sua carne, fiquei espantada... ahahahahahah, vou começar trabalhar meus projetos nessa unidade de peso, quem sabe rende mais!!!! hahahaha

Anônimo disse...

Nossa!!!!!Como sempre nada facil!!!!Mas perder chaves e chinelos faz parte de vc, e nao ia ser ai num pais diferente que vc iria mudar. Beijos

Camis disse...

Certeza que seu chaveiro foi para o mundo paralelo onde vivem os meus elásticos de cabelo e os isqueiros (dizem os fumantes)!!!