quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dinheiro na mão é vendaval




Antes de vir pra cá, vendi algumas coisas que tinha em casa, juntei com uma bufunfa guardada do último trabalho, transformei em dólar e zarpei pra América. Não era muito dinheiro, mas era o possível pra sobreviver algumas semanas. Iria receber aqui, lógico, mas as verdinhas serviriam pra montar essa minha nova vida. Receberia uma grana da agência somente por me transferir pra cá, uma ajuda pra os primeiros gastos, principalmente na nova moradia.

Mas quem disse que foi tranquilo assim?

Recebi meu primeiro dinheirinho da agência, duas semanas após minha chegada. Ainda não tinha conta no banco, então me deram o pagamento em cheque. Precisava descontar aquele cheque, pois o dinheiro de reserva, trazido do Brasil já estava descendo pelo ralo. Vi que o cheque era do banco Chase e procurei o mais próximo. Fui lá, com a cara deslavada pra sacar. Só que aquele pedaço mal-amado de papél não tava nominal. Andei pra cacete até a agência bancária. Tive que tirar impressões digitais de todos os dedos (logicamente que eu não entendia nada, simplesmente mandaram e eu fiz) e depois de 15 minutos, a mulher do caixa fala 400 palavras, onde eu não entendi nada. Nada mesmo. Nem um THE, ou um BOOK, muito menos IS ON THE TABLE. Nada... Tava foda. Mas percebi que algum problema tinha acontecido, pela expressão e o movimento rotatório no eixo vertical da senhora. Perguntei educadamente qual era o problema. A mulher já havia dito. Só que meu cérebro não tinha nem noção disso. Ela largou a caneta, levantou a cabeça e me olhou fixamente. No olhar consegui ver o ódio corroendo as suas entranhas. Ficou 10 segundos sem falar. Para mim pareciam 2 horas. Ficou aquela tensão no ar. Eu pensando que era a minha deixa de falar alguma coisa, mas falar o quê? Depois dessa eternidade de troca de olhares, ela me falou já executando uma pergunta: Você por acaso tá brincando com a minha cara? Quase chorando, respondi que não. E ela disse de forma educada e nada agressiva: JÁ TE EXPLIQUEI PORRA. É SURDO? Aí entendi que o cheque não tava nominal. Por isso, acredito eu, pegaram as minhas digitais, vai que eu era um procurado criminoso, ladrão de cheques. Frustrado, voltei ao trabalho e falei com o careca lá do financeiro, que pediu milhões de desculpas e arrumou a falha.

No dia seguinte, voltei ao mesmo banco. A senhora era a mesma. Depois de olhar o cheque e tal. Falou meia dúzia de palavras e fez o mesmo movimento com a cabeça. Agora eu não iria pegar o dinheiro, porque como é um cheque jurídico, precisava ser retirado na agência bancária, onde a empresa tinha conta. Eu enchi o peito, prendi o ar e pensei no que ia falar: Ok sua gorda morfética lazarenta, mas porque não me disse ontem? Porque fez eu caminhar até aqui novamente filha de um cão sarnento? Mas a única coisa que eu falei, com toda a educação do mundo, foi a pergunta de onde era essa agência. Ela me indicou e o trouxa foi andando até lá. Chegando na famosa agência, a senhora do caixa faz o mesmo movimento de rotação da cabeça. Me disse que como o cheque é blablablablablablablablablabla eu precisaria de uma autorização por escrito da minha empresa. Cada dia que passava, o dinheiro da reserva ia se acabando. No dia seguinte consegui a autorização e voltei. Já com um pé atrás. Pimba! Tudo certo, dinheiro em mãos. Mas é melhor ir e colocar ele logo numa conta, não?

Eu ainda não tinha conta, mas aproveitei pra abrir logo em seguida no Bank of America. Depois de 1 hora (tudo meio que na base da mímica) a conta foi aberta. E já dei o dinheiro para depositar. Já recebi o cartão de débito provisório e fui feliz, cantando, de volta pra agência. Finalmente teria grana.

No dia seguinte, saí pra almoçar, tentei pagar com o cartão de débito e necas. Nada. Eu já havia desbloqueado o cartão, porque não consigo? Tá louco? Paguei o almoço com os mingadinhos que tinha em espécie e na volta aproveito pra ir na minha agência bancária tentar descobrir o porquê. Como era o primeiro movimento da conta, o dinheiro ficaria retido por 2 semanas, aí sim eu poderia usar. A gerente disse isso com um sorriso educado, que mais me parecia um sorriso sarcástico e malicioso dizendo: Se fudeu brasileiro de merda. E foi acabando a reserva monetária. Mas consegui me alimentar nos últimos dias de calvário, antes de finalmente conseguir sacar a primeira verdinha. E tenho certeza que nesta nota estava escrito: Welcome to America!

3 comentários:

Anônimo disse...

Ale, adorei..eu meio que acompanhei isso, via nextel..Aprendeu ingles na marra...pelo menos teve de entender o que as bruxas falavam.HAHAHA

Anônimo disse...

Ale, seu blog realmente nao poderia ter outro nome... td acontece, nam!!! Bjim!

Camis disse...

Quem mandou querer receber em dollar?!?!?
Tem que passar por isso!!
hahaha

Bjo