terça-feira, 24 de junho de 2008

Um amigo chamado Bonde!


Bom... Cheguei aqui em outubro de 2007, com a idéia de guardar dinheiro e voltar rico pro Brasil. Idéia tonta de início, porque teria que trabalhar 600 anos aqui pra voltar com uma boa bufunfa! Bom, mas no começo realmente pensei em não gastar dinheiro com o que eu não precisava.

Quando perguntei como era viver em Dallas, pra um amigo, antes de vir pra cá, ele disse entre outras coisas que eu iria precisar de carro. "O transporte público praticamente não existe"... "Você vai ter que comprar um carro, impossível viver lá sem". Mas não... Eu queria provar que o que ele tava dizendo era somente uma conversa de um dependente veícular. Aqui tem um bondinho (Trolley) que circula Uptown e vai até Downtown, onde eu trabalho. Pronto. Quando conheci Uptown fiquei apaixonado, é ali que eu vou viver. Supermercado, barzinhos, baladas. Tudo ali e o melhor: o bondinho pra ir pro trabalho. Carro pra quê??? Comprei uma bicicleta (vou contar em outro post algumas histórias com a bicicleta - ou AS bicicletas) e pronto. Dois meios de transporte pra me locomover entre Uptown e Downtown. E os dois ajudavam na minha consciência naturalista atual.

Acordava, descia pro ponto do bondinho e ia embora. Muitas vezes o filho de uma mãe estava passando. E eu perdia esse. Esperava pelo próximo que tarda uns 20 minutos. Mas com ódio saindo pelas ventas. Fazer o quê? Mas eram questões de segundos que eu não conseguia entrar na porcaria. As vezes calculava o tempo (ele passa aqui na rua e posso vê-lo) para o próximo e descia as vezes com 5 minutos de antecedência e não é que o corno tava indo embora? Ele se antecipou a mim. Bonde filho da puta! Eu tinha uma briga particular com essa máquina véia. Ele não gostava de mim e eu não gostava dele. Mas só eu precisava dele. Então ele se achava na liberdade de me zoar quando queria.

Em Downtown, onde trabalho é o ponto final do meu "amigo" bonde, então o horário é rigoroso. Não tarda. Não se adianta. Pelo menos em teoria. E na prática funcionava com os outros, menos comigo.


Um certo dia, saí da agência e desci os dois quarteirões que separam o prédio do bonde. Eu estava adiantado. 2 minutos. E de longe via o bonde partindo. Eu imaginava a cara do maquinista, olhando pra trás, com um chifrinho de diabinho (como em Pica-Pau), dando uma risada irônica e falando: "vamos meu bondinho, jogue fumaça na cara dele, hehehehe". Eu calculei, vi que ele iria parar num semáforo. Comecei a corrida contra o tempo. Parecia um louco correndo na rua e segurando a mochila com o laptop. Enquanto corria vi que o semáforo abriu e ele não parou. Ok. Tem um semáforo logo em seguida e ele está fechado. Nesse eu alcanço. Pode apostar. Corri feito um guepardo. Cheguei no bonde e quando fui avisar o maquinista, o %$@# do semáforo abre. E lá se vai o bonde em seu caminho. Ok. Tem um semáforo logo em seguida e ele vai estar fechado. SE DEUS QUISER. E estava. Me senti correndo em câmera lenta... olhando a linha de chegada, a torcida gritando, agitando bandeiras escritas com meu nome, as crianças sorrindo... Atravesso a rua, já estou paralelo ao bonde, já consigo ver uma mulher olhando pra mim, sorrindo, um senhor olhando assustado. Chego na parte da frente e dou uma batidinha no vidro, pro maquinista abrir a porta. O colega está com um ipod no ouvido e não repara, nisso o semáforo abre e o bonde se vai. Eu já estava cansado, morto, suado (estava uns 10 graus), não iria aguentar correr mais atrás do amigão. A solução foi caminhar até o próximo ponto e esperar. 30 minutos depois lá está ele. Brilhando!!! Sorrindo pra mim! Estou no ponto, não tem mais como fugir de mim! Já estou dentro, esperando e partiu! Meio quarteirão depois o bonde pára. O maquinista diz que o bonde está com um problema e teríamos que esperar uns 20 minutos! Mas o meu inglês foi suficiente pra entender: "Paramos pra fazer o Alê de tonto". E estava na frente de uma lanchonete. Como era a hora do almoço (nesse dia o trabalho era só meio expediente), é ali que iria comer.

Enquanto como, observo o bonde parado. E logo outro parou atrás e outro. Um congestionamento de bondes. Eu teria bonde a dar com balde, não precisaria correr, suar. Pedi a conta rápida, pra pegar pelo menos um deles. Mas não adianta! Quando finalmente paguei a conta os três bondes partiram ao mesmo tempo em fila indiana. Adeus! Eu já nem sentia mais raiva. Já tinha acostumado com as palhaçadas desse transporte traiçoeiro. A solução foi andar até o próximo ponto... E adivinha onde era? Na porta da minha casa.

7 comentários:

Karina e Marilda Torres Antonio disse...

E o mais engraçado é que ele estava comigo no nextel e correndo atrás do Bonde! Eu chorava no meio da redação do SBT de tanto rir..."Ah, agora alcanço! Desgraçado!!!! Foi embora de novo....hahahahahahah" Muito boa, essa é a melhor!

Alê Torres disse...

Minha irmã comentou acima...

Fabi Secches disse...

Você escreve muito bem para um DA e está com o português impecável para um cidadão de Dallas. ;)
Bjos, Fabi

Unknown disse...

Eu tbm achei essa história do bonde a melhor!!!! Poxa.... 3 bondes um atraz do outro e vc perdeu os 3???? Põe a mão... ahaha
Muito legal a idéia do blog, além de compartilhar suas travessuras e atrapalhadas pela terra do tio Bush, é possível ver que vc não é o cara todo sério e metido que quem não te conhece imagina que vc seja.
Pelo contrário é uma pessoa doce, divertida e muito atrapalhada!!!! rsrsrs
Bjos.

Unknown disse...

Ale,

Que legal que você tem blog... e que tudo que você mora em Dallas... Amei... Escreves bem!!!

Beijos
Amanda

Anônimo disse...

Ale, muito divertido o q vc escreveu... Vc tem talento!!!
Continua viu?!
Se cuida!!!
Aninha.

Alê Torres disse...
Este comentário foi removido pelo autor.