quarta-feira, 25 de junho de 2008

White Trash Taxi

Bom... Depois de umas brigas carnavalescas com o famoso bonde (ainda tenho outras histórias pra contar sobre esse amigão) e depois de problemas incríveis com a(s) bicicleta(s) (contarei a história também), resolvi que precisava de um carro. 6 meses vivendo de bonde, bicicleta e carona. Complicado. Mas ia levando... As coisas aqui são muito longe. Imagina você querer comprar um tênis, só que você mora no Grajaú e a loja mais perto é no Arujá. Como o transporte público praticamente inexiste, e o pouco que existe me odeia, a solução era comprar um carro. Não tinha saída. Ainda mais quando não consegui ir a um jogo de pôquer porque não tinha carona, aí vi que estava perdendo oportunidades de negócios. 6 meses depois de chegar em Dallas, lembrava daquele velho amigo argentino dependente veícular me falando que era impossível. Fazer o que?

Soube que a Volkswagem tinha um plano pra estrangeiro. Como estava iniciando do zero aqui, meu crédito estava mais baixo que o cabelo do meu pai, que é careca. Como não tinha dinheiro pra dar entrada num carro, o ideal era entrar nesse plano.

Consegui uma carona pra ir até a loja. Percebi como um caroneiro é inconveniente, porque o motorista mal esperou eu sair do carro pra arrancar e me deixar lá sozinho. Ok! Se eu já não sair guiando hoje, volto de táxi.

Dei uma verificada de preços na volks, fiz um test-drive. Saí da loja por volta das 19h48. Aproveitei que tinham outras concessionárias, de outras marcas próximas e fui dar uma olhada aqui e ali. Nada me agradou e já eram mais que 20h, todas as lojas haviam fechado. A avenida ficou numa penúmbra. Precisava pegar um táxi pra voltar pra casa, mas nada. 30 minutos de espera e nada de passar um mísero táxi. Que saudades do bonde. A solução foi caminhar, procurar alguma porcaria aberta pra ligar pra alguma companhia de táxi. Mas tudo estava realmente fechado. 1 hora depois acho um posto de gasolina. E um táxi parado lá. Amarelo. Pronto pra me levar ao meu lar. Eu estava doente. Com febre, gripe e início de amigdalite. Louco pra chegar em casa e desmaiar. Só faltava o taxista! Por volta de 15 minutos nada dele aparecer. Eu já cogitava entrar no carro e ir embora mesmo assim.

De repente saí da loja um ser. Uns 150 kg. Uns 2 metros de altura. Barba até o peito, cabelo lembrando uma vassoura de piaçava, e que ia até a metade das costas. Um famoso White Trash.

Deixe me explicar o que é White Trash: são aqueles americanos, mais americanos de todos americanos. Patriotas. Vivem em Trailers. A maioria participou de alguma guerra ou o pai. São completamente racistas, preconceituosos. Odeiam o resto do mundo, inclusive os americanos que não são White Trash (tradução literal é lixo branco). São pobres e odeiam gente rica. Você já deve ter visto, naqueles programas policiais americanos, onde sempre tem aqueles barracos de família ou vizinho. Pra você ter alguma noção do que é, veja as fotos abaixo. E acompanhe a história a seguir.






Perguntei pro homem se ele estava trabalhando, porque precisava que me levass... ENTRA LOGO, disse o senhor muito bem educado, me interrompendo. No carro não fala uma palavra. Eu falo a rua pra me guiar. Continua mudo. Percebo depois de alguns kms que o taxímetro não está ligado. Pergunto educadamente se ele não ligará. Eu juro por Deus que não entendi uma palavra do que ele dise. Parecia um cachorro latindo, com problema sério estomacal. A voz era estupidamente grossa. Imagine o cantor do Sepultura depois de uma forte tosse. Ele disse só três palavras. E eu fiquei longe de entender qualquer uma delas. O caminho inteiro foi aquela tensão. Eu não entendi o que ele falou, já pensando que as três palavras seriam "você foi sequestrado", ou "são 200 dólares", mas na verdade era "você se fudeu". Depois de um longo caminho, reparei que estávamos mesmo indo pra minha casa. E dei uma dica simples, dizendo que se ele entrasse naquela rua, pegaria um atalho e mais uma vez fui interrompido. Dessa vez praticamente latiu, uivou e rosnou. Me disse uma série de palavras, ríspidas. Fudeu, pensei. Não entendia porra nenhuma. Nenhuma palavra. Nada. Num meu humilde "Sorry?" ele falou com a mesma raiva, mas compassado onde eu consegui entender: "EU ESTOU DANDO A PORRA DA CARONA DE GRAÇA E VOCÊ AINDA QUE ME DAR AULA DE DIREÇÃO?". Eu só respondi: Meu prédio é aquele do outro lado da rua, obrigado.

E lá fui eu caminhando mais uns 2 km até minha casa.

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